Transcrevo o manifesto de um grupo de participantes da Marcha contra a Fome, convocados pela Cáritas e pela Comissão Justiça e Paz dos Religiosos. Esta marcha realizou-se no passado mês de Maio em Lisboa."Nós, um grupo de cristãos, que participámos na Marcha contra a Fome, fizemo-lo em primeiro lugar como cidadãos desta terra, juntando-nos a uma feliz iniciativa da sociedade civil para dar um sinal de repúdio pela fome que envergonha a Humanidade e para, ao mesmo tempo, fazer saber que essa realidade interpela não só os responsáveis políticos pelos destinos dos povos como também cada indivíduo e assim cada um de nós mesmos.
Nas últimas semanas têm sido diversas as chamadas de atenção para a crise alimentar que está a bater à porta de muita gente. Há um mês a Comissão Europeia deixou um alerta perante a análise da situação que a obrigou a rever de forma dramática as previsões da subida dos preços dos alimentos em 2008. Na mesma altura o Secretário-Geral das Nações Unidas referiu-se ao assunto do aumento do preço dos alimentos como sendo um fenómeno global, como que um “tsunami silencioso” no preço dos alimentos. Este ”tsunami” baterá à porta de todos, mas obviamente baterá com mais violência e com consequências desastrosas junto daqueles que estão mais desprotegidos e que são os pobres: a crise provocará seguramente a morte de milhões de pessoas que já vivem abaixo do limiar da pobreza. A fome e a subnutrição que já provocam anualmente a morte de cerca de 6 milhões de crianças, vão seguramente aumentar tragicamente este número.
Também entre nós falar de fome não é uma moda. É dar conta de uma triste realidade que vai afastando o sonho de uma sociedade justa e que vai provocando um sentimento generalizado de falta de esperança, como referia a Comissão Nacional Justiça e Paz na mensagem da Quaresma do ano passado. A pobreza e as desigualdades sociais estão a agravar-se a olhos vistos. Num relatório recente do Eurostat, Portugal aparece como o país com mais desigualdade na distribuição de rendimentos na EU-25 e é o único que apresenta um desnível entre pobres e ricos superior ao dos Estados Unidos. As causas são diversas e conhecidas. As subidas frequentes e repetidas do preço dos combustíveis entre nós são apenas uma manifestação do fenómeno, que tem causas estruturais, bem como outras de ordem conjuntural que o explicam, mas que não o podem justificar. Por isso é que os cidadãos e as cidadãs querem chamar a atenção dos seus governantes para que desempenhem a sua função de promotores e garantes da justiça social. Face aos desafios que se avizinham e à agudização de tensão e lutas sociais, o Estado não pode ficar indiferente, mas tem de garantir o lugar devido aos mais fracos, sem os substituir, mas também sem permitir que sejam engolidos na voracidade da ganância, do lucro e das leis de um mercado globalizado sem regras.
Por isso apelamos aos governantes para que promovam políticas que possam corrigir o fosso que separa ricos e pobres e que tenham em vista, não o que agrada aos grupos particulares, mas sim o que pode conduzir todos os cidadãos e cidadãs a uma situação de autêntica cidadania, isto é, a condição de pessoas livres e com meios indispensáveis para tomarem o destino das suas vidas nas próprias mãos. Deixar que continue a verificar-se o agravamento do preço dos alimentos essenciais, dos cuidados de saúde, dos transportes e do acesso a uma educação efectiva só pode conduzir ao aprofundamento do fosso entre os muitos que têm pouco e os poucos que têm muito. E as consequências em termos de paz social só podem ser trágicas.
Porque falamos de um fenómeno que é também global, o Estado não pode menosprezar o seu compromisso internacional no que se refere à Ajuda Pública ao Desenvolvimento, na linha do primeiro dos Objectivos do Milénio e que consiste justamente em reduzir para metade a pobreza extrema. Também neste campo Portugal ocupa um triste lugar, uma vez que, segundo o relatório da OCDE juntamente com o Reino Unido constituem os únicos países que baixaram a sua contribuição para a APD. Infelizmente quem não ajuda o vizinho também não é capaz de ajudar os que vivem dentro de casa. Os países desenvolvidos, no relacionamento com os países em desenvolvimento, devem substituir os gestos de esmola, as migalhas, por atitudes de justiça, como declarou a Conferência Europeia das Comissões Justiça e Paz.
E porque o desequilíbrio também começa em cada um de nós, perante o drama da fome distante ou próxima, queremos afirmar que não podemos fugir da nossa responsabilidade na produção da riqueza necessária para poder ser distribuída e na prática de um estilo de vida mais simples que evite o desperdício que é sempre um roubo aos mais necessitados e que tantas vezes não passa de uma inconsciência ou de um fútil meio de ostentação.
Como pessoas que encontram a sua inspiração de vida nos ensinamentos e nas obras do Senhor Jesus entendemos que Ele no sinal da multiplicação dos pães nos quis mostrar que o milagre consiste na partilha do pouco que existe. A fome de todos poderá ser saciada não pela abundância e ostentação, mas pela justiça aliada à partilha e à simplicidade. Há alimentos suficientes para alimentar toda a Humanidade durante quase meio século; há fome porque não há partilha, nem de bens nem de oportunidades. Há fome porque toleramos a existência de instituições e leis injustas. Por isso os pequenos gestos de cada um para ir ao encontro deste grave problema podem ser um começo de solução. "
Manifesto de um grupo de participantes na Marcha contra a Fome, convocados pela Caritas e pela Comissão Justiça e Paz dos Religiosos.
Nas últimas semanas têm sido diversas as chamadas de atenção para a crise alimentar que está a bater à porta de muita gente. Há um mês a Comissão Europeia deixou um alerta perante a análise da situação que a obrigou a rever de forma dramática as previsões da subida dos preços dos alimentos em 2008. Na mesma altura o Secretário-Geral das Nações Unidas referiu-se ao assunto do aumento do preço dos alimentos como sendo um fenómeno global, como que um “tsunami silencioso” no preço dos alimentos. Este ”tsunami” baterá à porta de todos, mas obviamente baterá com mais violência e com consequências desastrosas junto daqueles que estão mais desprotegidos e que são os pobres: a crise provocará seguramente a morte de milhões de pessoas que já vivem abaixo do limiar da pobreza. A fome e a subnutrição que já provocam anualmente a morte de cerca de 6 milhões de crianças, vão seguramente aumentar tragicamente este número.
Também entre nós falar de fome não é uma moda. É dar conta de uma triste realidade que vai afastando o sonho de uma sociedade justa e que vai provocando um sentimento generalizado de falta de esperança, como referia a Comissão Nacional Justiça e Paz na mensagem da Quaresma do ano passado. A pobreza e as desigualdades sociais estão a agravar-se a olhos vistos. Num relatório recente do Eurostat, Portugal aparece como o país com mais desigualdade na distribuição de rendimentos na EU-25 e é o único que apresenta um desnível entre pobres e ricos superior ao dos Estados Unidos. As causas são diversas e conhecidas. As subidas frequentes e repetidas do preço dos combustíveis entre nós são apenas uma manifestação do fenómeno, que tem causas estruturais, bem como outras de ordem conjuntural que o explicam, mas que não o podem justificar. Por isso é que os cidadãos e as cidadãs querem chamar a atenção dos seus governantes para que desempenhem a sua função de promotores e garantes da justiça social. Face aos desafios que se avizinham e à agudização de tensão e lutas sociais, o Estado não pode ficar indiferente, mas tem de garantir o lugar devido aos mais fracos, sem os substituir, mas também sem permitir que sejam engolidos na voracidade da ganância, do lucro e das leis de um mercado globalizado sem regras.
Por isso apelamos aos governantes para que promovam políticas que possam corrigir o fosso que separa ricos e pobres e que tenham em vista, não o que agrada aos grupos particulares, mas sim o que pode conduzir todos os cidadãos e cidadãs a uma situação de autêntica cidadania, isto é, a condição de pessoas livres e com meios indispensáveis para tomarem o destino das suas vidas nas próprias mãos. Deixar que continue a verificar-se o agravamento do preço dos alimentos essenciais, dos cuidados de saúde, dos transportes e do acesso a uma educação efectiva só pode conduzir ao aprofundamento do fosso entre os muitos que têm pouco e os poucos que têm muito. E as consequências em termos de paz social só podem ser trágicas.
Porque falamos de um fenómeno que é também global, o Estado não pode menosprezar o seu compromisso internacional no que se refere à Ajuda Pública ao Desenvolvimento, na linha do primeiro dos Objectivos do Milénio e que consiste justamente em reduzir para metade a pobreza extrema. Também neste campo Portugal ocupa um triste lugar, uma vez que, segundo o relatório da OCDE juntamente com o Reino Unido constituem os únicos países que baixaram a sua contribuição para a APD. Infelizmente quem não ajuda o vizinho também não é capaz de ajudar os que vivem dentro de casa. Os países desenvolvidos, no relacionamento com os países em desenvolvimento, devem substituir os gestos de esmola, as migalhas, por atitudes de justiça, como declarou a Conferência Europeia das Comissões Justiça e Paz.
E porque o desequilíbrio também começa em cada um de nós, perante o drama da fome distante ou próxima, queremos afirmar que não podemos fugir da nossa responsabilidade na produção da riqueza necessária para poder ser distribuída e na prática de um estilo de vida mais simples que evite o desperdício que é sempre um roubo aos mais necessitados e que tantas vezes não passa de uma inconsciência ou de um fútil meio de ostentação.
Como pessoas que encontram a sua inspiração de vida nos ensinamentos e nas obras do Senhor Jesus entendemos que Ele no sinal da multiplicação dos pães nos quis mostrar que o milagre consiste na partilha do pouco que existe. A fome de todos poderá ser saciada não pela abundância e ostentação, mas pela justiça aliada à partilha e à simplicidade. Há alimentos suficientes para alimentar toda a Humanidade durante quase meio século; há fome porque não há partilha, nem de bens nem de oportunidades. Há fome porque toleramos a existência de instituições e leis injustas. Por isso os pequenos gestos de cada um para ir ao encontro deste grave problema podem ser um começo de solução. "
Manifesto de um grupo de participantes na Marcha contra a Fome, convocados pela Caritas e pela Comissão Justiça e Paz dos Religiosos.
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